sábado, 8 de março de 2008

QUERIA AQUI LANÇAR UMA PEQUENA DISCUSSÃO...

Qual o papel do Conservador Restaurador? Qual o seu campo de acção? Quais os seus limites?

9 comentários:

Vera Caetano disse...

Segundo o documento E.C.C.O.- Linhas de Orientação Profissional, e o Documento de Pavia
“ O papel do Conservador Restaurador é a preservação dos objectos culturais para benefício das gerações actuais e futuras, contribuindo para a consciencialização da integridade estética, histórica e física destes objectos.
O Conservador Restaurador deve tomar parte no processo de tomada de decisões desde o princípio do projecto de conservação - restauro e ele deve assumir, em colaboração com outros parceiros envolvidos, as responsabilidades que dizem respeito à área da sua competência (em particular diagnósticos, prescrições, aplicação e documentação do tratamento). Num caso de emergência em que exista risco iminente para a obra de arte, o Conservador Restaurador deve prestar todo o apoio possível, independentemente a sua área de especialização.
Quanto às suas delimitações, O Conservador Restaurador não é um artista nem um artesão. Enquanto estes têm como função criar novos objectos e consertar objectos em termos funcionais, ao conservador restaurador compete preservar objectos de valor cultural.”
Se estes conceitos já foram escritos, analisados, publicados e imensamente lidos, não consigo perceber o porquê de não ter entrado em vigor... Segundo a E.C.C.O. não somos artesãos, mas em Portugal Sim!!!!! Expliquem-me porquê?
O documento de Pavia refere também, que evitemos a “proliferação de programas de instrução/formação que não satisfazem os standards da profissão.” E eu pergunto, quem são os responsáveis directos para que todo o sistema tenha sido corrompido!!!!!!

MTM disse...

Quem fala assim, não é gago!
Agora sim, temos andaimes, temos obra e temos discussão, temos massa crítica, temos blog!

MTM disse...

e por aqui...mais nada?? Eu é q agora não tenho tempo...lolé!!!

Rita disse...

Compreendo o que se diz a respeito do nosso papel não ser ainda considerado quando comparado com outras profissões, mas não esqueçamos que o sistema depende, em grande parte, de nós. Parece-me que a “lacuna” começa pela falta de comunicação entre os conservadores e os restantes agentes envolvidos.

Para que o conservador possa compreender todos os factores implícitos à preservação de bens, a sua formação integra disciplinas de várias áreas científicas e humanísticas.
É de senso comum que estas são ferramentas básicas que não dispensam a opinião dos especialistas de cada campo, devendo o conservador procurar outros peritos (Química, Física, Biologia, História da Arte, Engenharia e engenharia dos materiais…) sempre que se justificar.

Visto assim, [e não me batam] QUASE se compreende porque é considerado um “artesão” pois, visto de fora (e às vezes por dentro), o conservador-restaurador parece apenas aplicar na prática a informação dada por terceiros.

Sente-se o peso desta “mediação”, pois enquanto os demais especialistas estudam as questões no seu singular, o conservador DEVE interrelacionar toda a informação e canalizá-la, de forma coerente, com a finalidade única da preservação dos objectos.

As áreas complementares são isso mesmo –COMPLEMENTARES, pois desde o diagnóstico à intervenção, as decisões (e a responsabilidade) cabem ao conservador-restaurador.

Como a Vera referiu, o papel do conservador está bem definido – no papel.

A minha questão é a seguinte: sendo frequente a colaboração (directa ou indirecta) de especialistas de áreas complementares, deve o conservador ser o único responsável pelo resultado final?

Vera Caetano disse...

Felicito-te Rita, por essa questão fundamental!!
Como já referi e volto novamente a citar "O Conservador-Restaurador, (...) deve assumir, em COLABORAÇÃO com outros parceiros envolvidos, as RESPONSABILIDADES que dizem respeito à sua área e competência (em particular diagnósticos, prescrições, aplicação e documentação do tratamento)".

Mas quando referes: "As áreas complementares são isso mesmo –COMPLEMENTARES, pois desde o diagnóstico à intervenção, as decisões (e a responsabilidade) cabem ao conservador-restaurador".

Na minha opinião, a responsabilidade do produto final não cabe apenas ao Conservador Restaurador porque, apesar de ele a assumir toda a responsabilidade das decisões tomadas, também depende dos resultados das áreas complementares!
São elas que nos levam a tomar essas mesmas decisões.

Se no mundo real as coisas funcionassem bem, uma intervenção seria da responsabilidade de todos! Em que "Todos" (Conservador Restaurador e Especialistas das áreas complementares) são uma Equipa!!!!
Não acham?

MTM disse...

Já agora deito mais uma acha para a fogueira...
É certo que o Conservador Restaurador tem a tal formação transversal e uma perspectiva interdisciplinar incutida desde cedo e para além disso pode e deve contar com outros intervenientes, já citados...mas e esses intervenientes?...contam com os Conservadores Restauradores? São perdidos e achados na hora certa? Na hora do Planeamento de uma obra, na hora de tomada de decisões?...Ou são apenas requisitados para dar soluções enquadradas no modo de ver dos outros intervenientes e no fim responsabilizados pelo resultado da acção?
...e para finalizar deixo aqui uma frase curiosa...(já conhecida de alguns...)
"O conservador-restaurador realiza a mais ingrata das tarefas. No melhor dos casos, o seu esforço passa despercebido e nunca se ouve falar dele.
Se faz um bom trabalho, entra para o clube duvidoso dos falsificadores; se, pelo contrário, tem um deslize, vai engrossar a fileira dos desprezíveis inimigos da arte.
É impossível renunciar à sua perícia e aos seus conhecimentos, mas as suas incorrecções saltam à vista.
É mais difícil julgar o trabalho de um conservador-restaurador que criticar uma obra de arte. E isso quer dizer alguma coisa."
Max Friedlander in Arte e Sustentáculo do Saber

Sonia Cardoso disse...

Olá a todos...

Sabem o que me irrita mais na nossa área... e que perdemos tempo demais a falar sobre coisas que já nós todos sabemos o que é correcto e o que não o é... (eu pessoalmente admito que também o faço)

Depois quando chega a altura certa!!! A diferença de um conservador e de um não conservador é fazer se um bem geral. (é que não existe a diferença entre bom ou mau... ou és ou não o és... se fazes as coisas bem em função do bem da historia e da arte... és conservador e ponto final)

Isto é: FAZER.

As ideologias todas já foram questionadas e deverão sempre ser (anti-dogmatismo para sempre), mas acho que a nossa área já está numa fase em que temos que transmitir estas ideologias para um público geral. Porque isto sim, permite a preservação do nosso Património Cultural.

"Preservar para as gerações futuras?"

A Conservação do Património Cultural...não é só para as gerações futuras mas sim para as gerações passadas e presentes, e só no final virão as gerações futuras...

A Conservação e Restauro existe e os conservadores existem para trabalhar com todos, principalmente para preservar o que é de todos e para todos. E a nossa glorificação deverá sempre ficar esquecida, porque o que interessa e a “glorificação” do nosso Património.

E isto espero eu ... vai permitir com que o HOMEM, não se esqueça da sua própria existência.

Blue

Rita disse...

“…a nossa glorificação deverá sempre ficar esquecida, porque o que interessa é a “glorificação” do nosso Património.”

:-) Concordo inteiramente!

Mas penso que o excerto citado se refere, mais que à glorificação do nosso trabalho, ao simples reconhecimento do nosso esforço e intenção (embora disso esteja o inferno cheio). E como não há nada mais desmoralizante que a incompreensão dos outros, suponho que o ideal para um conservador-restaurador seja o de, anos depois de feito um seu trabalho, uma nova geração de conservadores dizer: “Bem! Isto hoje está errado, mas pelo menos fez o possível.”

Rita disse...

(Em resposta à Vera) Era mesmo aí que queria chegar. [-;